20 de fevereiro de 2010

Ao acaso










 Podemos observar lá fora, pela fresta da janela quão grande o mundo é. Por diversidade, cultura ou pela beleza de uma floresta, que se estende à beira de um mar de águas cristalinas. Quanta beleza ao nosso alcance, a nossa vista... Mas que não a percebemos com meros olhares, pois ver se distingue de enxergar...
  É simples chegar a essa conclusão. Ponha um fone ao ouvido e ande pelo centro da cidade, ou por algum lugar onde se encontra um grande número de pessoas.
  Eu o fiz. E tão simples e magníficas são as conclusões que se tiram de tudo isso. Eu enxergo pessoas de todos os tipos e tamanhos, algumas bem portadas para um mero terminal urbano, outras nem tanto. Talvez por falta de oportunidade, não sei.
  O que se tira disso tudo não é a forma como elas andam, a roupa, os calçados, e sim o objetivo de cada uma. Olhares distantes, no filho desempregado, olhares preocupados com o filho doente, a mãe em fase terminal num hospital, ou até o olhar triste de uma criança, cujo presente de natal foi uma boneca que vulgarmente diríamos de "um e noventa e nove", ganhada dos poucos que fazem jus a própria pena sobre os outros...
  Observo o olhar daqueles adolescentes que andam, andam e andam a caminho das escolas, universidades, cursinhos, em busca de algo cujos próprios pais não tiveram; uma carreira sólida e uma estabilidade profissional, além da realização pessoal.
  Pergunto-me apenas, se essa correria pelo mundo faz com que as pessoas uma hora largam tamanha preocupação com o passageiro e agradeça. Olhe para o céu, para o mundo que vejo do meu quarto, olhe para a mais simples plantinha que se encontra no meio de tanto concreto, que insiste tanto e mais no viver. Pergunto-me se elas se motivam ao observar as ondas que se vão, mas que outrora voltam, criam espuma que interpreto como sorriso.  Agradecem será ao próprio cão doméstico?
  Há quem acredite na força divina, há quem diga que evoluímos, e de uma grande explosão viemos, mas isso já não me convence mais de que devemos apenas ir vivendo, lutando por melhorar e realmente evoluir mentalmente ou humanamente. Digo-lhe que apesar de qualquer verdade não absoluta que vemos pelo mundo afora, sobre de onde viemos ou vamos; o que devemos independente de qualquer ato ou acaso, é agradecer. A quem? Não há alguém nesse mundo que num monte de bosta não acreditará; há algo em suas coleções de fotos, ou acontecimentos que acreditarão ou acreditam de alguma forma. Apenas aposte nisso e diga: obrigada por ser belo ou bela, e me fazer sorrir pelo mundo lá fora, me oferecer te contemplar ou pensar em ti no mais alto de minha tristeza, provocando-me tamanho sorriso que me curará de tamanha ignorância diante dos fatos. Obrigada por eu poder olhar por entre a fresta da janela, e agradecer ao mundo que me espera lá fora, mesmo que eu possa apenas aproveitar pequena parte dele. Essa parte é o que dá sentido ao mero sorriso que ainda tenho aqui comigo, ao lembrar-se de você.
Nada será tão obsoleto em sua vida que não dará algum sentido á ela.

"O amanhã nos levará embora,
Longe do lar,
Ninguém jamais saberá o nosso nome,
Mas as canções do bardo permanecerão,
Amanhã tudo terá terminado,
E você não está sozinho,
Portanto não fique com medo,
No escuro e no frio,
Porque as canções do bardo permanecerão,
Elas todas permanecerão..."